Avançar para o conteúdo principal

Quando os Mouros Dominaram a Europa

Recomendo começarem a refletir sobre a presença Moura na Europa, mais propriamente na Península Ibérica, se ainda não o fizeram, com este filme muito elucidativo da investigadora e divulgadora de história, Bettany Hughes.

Nele é possível perceber, de forma inequívoca que, à data, a cultura Moura era iluminada, avançada e tolerante e foi esta cultura que lançou, mais tarde, o Renascimento na Europa.




Para complementar a visualização deste filme tão interessante, vale também a pena ouvir o que tem a dizer o nosso historiador e arqueólogo, Cláudio Torres com base nas suas investigações ao longo de 40 anos, fundamentalmente assentes na cidade de Mértola. Vou tentar reproduzir alguns destes factos interessantes, com base na sua entrevista para a revista Sábado, n.º 711, em conjunto com outros dados compilados por mim, ao longo do tempo.

O que ele concluiu é que não houve grandes invasões muçulmanas, mas sim populações cristãs que se foram convertendo lentamente ao Islão. O Norte de África na área em baixo, a azul e o território do Sul da Península Ibérica, pertenciam à mesma cultura, falariam uma língua similar, romanizada.



Informo que o E1b1b é o halogrupo dominante no Norte de África e apresenta também uma frequência relativamente comum na Europa (ver gráfico da Eupedia, abaixo).
 


Como é dito por Bettany Hughes, Córdoba, era a maior, mais populosa e civilizada cidade da Europa, com escolas, hospitais, bibliotecas, universidades e uma infra-estrutura pública anos-luz à frente de qualquer coisa na Inglaterra da época.

 
Córdova já era uma cidade importante e enorme no século IX e X e a sua população podia ter entre 3 a 4 milhões de habitantes, enquanto Lisboa já teria cerca de 500 mil.

Por outro lado, o Norte da Península era uma zona feudalizada em que um castelo isolado dominado por um senhor feudal, apoiado pelo seu exército, dominavam a região. As cidades só surgiram nos seculos XIII e XIV enquanto que no Mediterrâneo já existiam grandes cidades ligadas ao comércio, desde há vários séculos.

Lisboa não foi conquistada aos muçulmanos, Lisboa foi conquistada por um francês, D. Henrique, aos próprios cristãos. A questão é que o cristianismo dominante nestes territórios era um cristianismo que não estava ligado a Roma - era um cristianismo ligado ao Egipto, Tunísia e Síria, relacionado com o movimento da "Escola Teológica de Alexandria", que era o Donatismo, monofisita e monoteísta. Este movimento opunha-se ao conceito da Santíssima Trindade. Estes dois tipos de cristianismo eram antagonistas: os monofisitas principalmente assentes no Norte de África e os que acreditavam na Santíssima Trindade, sediados em Roma e Bizâncio.

Cláudio Torres afirma que a invasão de 711 não está historicamente provada e que a penetração da religião muçulmana fez-se da mesma forma que em relação a todas as outras religiões ditas de salvação, que se impunham junto dos mais pobres através de vias de difusão pacíficas.

Diz-nos ainda que no fim do séc. XI surge o primeiro império almorávida, mas já durante os séculos IX e X se assiste ao lento crescimento da religião muçulmana a Sul da Península Ibérica, e no século XI esta já seria provavelmente maioritária, em particular nas cidades. Nos arredores, as populações ainda continuavam maioritariamente cristãs.




Só mais tarde, no século XII é que o catolicismo entrou nestes territórios.

Estas são parte das razões que me levam a concluir que quando se pergunta o que é a Europa, discordo em absoluto com a definição da associação ao cristianismo. Aliás, o que é o espaço físico Europa? Considero desde logo ser muito abusivo chamar-lhe continente, quando na realidade o espaço é uma península de uma massa de terra contínua ligada ao continente asiático. Mas pronto, falemos da Europa enquanto espaço delimitado a Leste pelos Montes Urais e a Ocidente pela Península Ibérica.

É muito comum a ideia que a Península Ibérica não é verdadeiramente Europeia e que tem uma maior afinidade com os Mouros/Árabes....(sendo que estes dois últimos não são exatamente iguais.....), o que não deixa de ser verdade, porque de facto há alguma continuidade genética e cultural com o Norte de África.

Muitas vezes, também os Gregos são considerados à parte, quando a Grécia Antiga é um dos berços da nossa civilização. E a civilização egípcia, não será também?

Os Mouros foram os berberes que invadiram a Península Ibérica através da passagem do estreito de Gibraltar e são povos caucasianos indígenas do Norte de África, com aparência europeia. Ou seja, do ponto de vista da genética, podemos também redefinir uma nova europa e em, meu entender, Europa é muito mais o espaço cultural e genético que se construiu em torno do Mediterrâneo.

A cultura dita Ocidental, teve raízes neste anel em torno do mar mediterrâneo e se a definição física de Europa não inclui espaços a sul do mediterrâneo, a cultura ocidental tem as suas raízes muito para além do seu território físico.

Para mim, a cultura ocidental é muito mais sinónimo de cultura mediterrânica, porque as influências das culturas que nasceram e floresceram nas suas margens, influenciaram verdadeiramente o seu caráter, com origens, em particular, na civilização egípcia e grega, nas religiões monoteístas do médio oriente, judaísmo, cristianismo e islamismo.

Por vezes e à conta da religião, estes povos afastam-se. No passado, a cultura islâmica era aberta e culta, a cristã mais fechada e atrasada. Hoje em dia, o contrário.

Por isso, temos que convergir e para convergirmos, como povos que sempre conviveram e progrediram em conjunto e se relacionaram e são caraterizados por marcadores genéticos tão únicos e próximos, temos que acalentar um Islão moderado.

Mas não nos iludamos: temos que acalentar um judaísmo moderado, um cristianismo moderado também. Qual a diferença entre um terrorista muçulmano e um terrorista da supremacia branca? Nenhuma. Absolutamente nenhuma. Ambas têm raízes nos excluídos da sociedade que têm necessidade de criar inimigos para justificar a sua própria exclusão e mal estar. Estes extremismos têm que florescer com a exploração da ignorância e com a criação de inimigos que não se procuram entender.

Vale para os dois lados.

Ainda existe uma cultura no norte de África e no médio Oriente que assenta nas culturas mediterrânicas: culturas ligadas às trocas comercias, à arte de bem receber, aos prazeres da vida, que deve ser ressuscitada.

Não podemos ser tolerantes com todas as práticas culturais que atentem contra os direitos humanos. Por exemplo, os direitos das mulheres são direitos humanos e os direitos humanos são direitos das mulheres, indissociáveis.

Quem quer viver no nosso território europeu com a definição física convencional, do Atlântico aos Montes Urais, tem que vestir "a nossa camisola" ou seja, tem que acatar os direitos humanos, as culturas nacionais existentes e não podemos tolerar culturas discriminatórias mas temos que querer, também nós, supostamente tão europeus, ir ao encontro de todos com mente aberta.



Comentários